São muitos os fatores que tornam a construção de fortes conexões com o time um desafio para os líderes nos dias de hoje. As complexidades, incertezas e ambiguidades do mundo atual impactam também os contornos e modo de interação entre um líder e seus liderados.
Alguns elementos relevantes desse cenário são:
Há um mix de gerações (Z, millenials, X e babyboomers) convivendo lado a lado no mercado, dentro das empresas e dos times, cada uma com um conjunto diferente de comportamentos, aspirações e visão do trabalho;
Na era do pós-covid, a interação remota passou a fazer parte do dia a dia empresarial numa escala nunca vista. Mesmo quando todos estão na empresa, muitas das reuniões são por vídeo ou somente teleconferência;
Com a importante atenção e crescimento da diversidade e inclusão nas organizações, grupos de funcionários que antes eram mais homogêneos, passaram ter perfis muito mais variados;
Contextos políticos, ambientais e econômicos, entre outros, se tornaram temas sensíveis que podem magoar ou levar pessoas à fúria (vide polarização política vigente no Brasil);
Ambientes acelerados de trabalho, de altas pressões e imprevisibilidade pelas novidades que o mundo complexo traz a todo instante.
Quando o líder cuida das pessoas e estabelece relações sólidas com todo o seu time, o resultado é uma equipe mais unida e mais confiante, com senso de coletividade e trabalho em equipe diferenciados. Como consequência, ter-se-á um time resiliente e adaptável que manterá a alta performance nas mais diversas situações.
A seguir, trago 12 ações eficientes para o líder colocar em prática visando o fortalecimento de sua conexão com os seus liderados.
Cumprimentar o time: O líder que faz questão de cumprimentar a todos os seus liderados logo que chega na empresa, sinaliza apreço, respeito e carinho por eles. Eu sempre fiz isso... Caminhava até cada um e, olhando nos olhos, dava um bom dia e trocava um firme aperto de mãos! Eventualmente, trocava ainda, de forma descontraída, umas rápidas palavras sobre temas aleatórios ou específicos de cada pessoa. Algo simples (mas poderoso) que fazia com gosto, que me energizava e que já cultivava minha conexão com todos!
Dar atenção ao lado pessoal: Ninguém separa totalmente o lado pessoal do profissional. É importantíssimo o líder entender aspectos da saúde, família etc. de seus liderados. E não é apenas sobre perguntar se está tudo bem em casa, com a saúde e outras áreas pessoais. Só perguntar não basta. É também sobre como você pode ajudar. Eu já fiz diversas concessões, por exemplo, de home office prolongado por causa de familiar doente, de ausência no trabalho para o pai ou mãe poderem ir a alguma atividades na escola dos filhos etc.
Promover momentos de descontração: Promover alguma descontração como almoços, happy hours ou outras atividades fora da empresa, faz o time se entrosar e ganhar em união e coletividade! Em reuniões do dia a dia com o time, quando os temas forem cobertos em um tempo menor do que agendado, aproveite o momento não para "devolvê-los para o trabalho", mas para promover algum humor ou brincadeira entre o time.
Dar feedbacks honestos: Os feedbacks constituem uma poderosa ferramenta para líderes. Quando o líder é franco sobre o que está e não está indo bem e foca no que pode ser feito para o desenvolvimento do liderado, todos saem ganhando! Para maior aprofundamento deste tema, deixo a recomendação de leitura do artigo “Feedbacks: 7 grandes razões para o líder ser franco e honesto!”, (https://www.cornelispoel.com.br/post/feedbacks-7-grandes-raz%C3%B5es-para-o-l%C3%ADder-ser-franco-e-honesto-1 )
Controlar as emoções negativas (raiva, desprezo etc.): Um líder não pode ficar se exaltando e demonstrando ferocidade e raiva com seu time. É preciso ter controle das emoções, é preciso ter equilíbrio. Ele não é pai e nem quem está ali à sua frente é uma criança. Não se pode, claro, "passar pano" para algo que houve de errado. Mas sendo um profissional adulto, o líder não deve esbravejar e precisa ser específico sobre o que levou ao erro, em termos de falhas de execução, comportamentos e competências, e os impactos na organização. Pode ser firme na conversa, indicando até que se tal comportamento voltar a ocorrer, ele não terá mais oportunidade no time, mas sempre mantendo o respeito e o profissionalismo.
Dar segurança ao time: Não há alta performance onde há medo! Se as pessoas não se sentirem seguras para falar de forma franca, a geração de ideias, a colaboração e o clima serão terríveis. É fundamental, portanto, que o líder construa um ambiente que tenha segurança em todas as perspectivas, sobretudo, a psicológica.
Confiar plenamente ao atribuir tarefas ou delegar autoridade: O líder ao atribuir uma responsabilidade, incluindo a delegação de sua liderança, deverá confiar 100% no liderado e nunca franzir o rosto ou fazer cara feia se algo der errado! "Preciso que você vá a campo (ou a um fornecedor ou a uma reunião difícil com cliente etc.) e como os problemas lá pedem uma dinâmica de decisão rápida, decida! E caso decida algo e dê m*rda, eu lhe asseguro que não haverá qualquer tipo de penalização, nem do meu lado e muito menos por parte de outras pessoas. E depois, juntos, nós vamos ver como remediar o abacaxi.” Eram diretrizes assim que eu passava para meus reportes. Se é para confiar, confie 100%! Dê respaldo e segurança e esteja preparado para gerenciar possíveis decisões dos liderados que tenham levado a complicações de alguma situação.
Tomar decisões em conjunto com o time: As decisões não monocráticas, i.e. com envolvimento de todos, trazem pertencimento, perspectivas diferentes, união e melhora da capacidade de trabalho em equipe! O líder deve evitar decidir tudo sozinho! Sempre que possível, o líder deve pedir e estimular a opinião de seu time, escutando prós e cons. e discutindo até se chegar num consenso com seus liderados. Nem sempre se chegará à concordância de todos, mas ao se seguir adiante de acordo com a maioria e com todos tendo a oportunidade de ter dado sua opinião, haverá um nível de satisfação muito maior de todo o time e um consequente maior buy-in.
Agir/ser uma pessoa normal: Não há mais espaço para o velho “chefe”, arrogante, que se posiciona como se fosse um ser humano superior aos outros, que gosta de exibir sua autoridade, que só dá ordens e não escuta a opinião do time. É preciso ser normal, afinal, ninguém é melhor do que ninguém! A diferença entre o líder e seus liderados é o escopo de suas funções. Cada um tem suas responsabilidades, que são diferentes, mas do ponto de vista de ser humano, todos têm o mesmo valor.
Comunicar de forma transparente os temas importantes da empresa: O líder não pode menosprezar a maturidade de seu time nem demonstrar que não confia no mesmo escondendo temas “quentes” em andamento na empresa! Boa parte, senão a maioria das situações críticas, logo ficam evidentes ou a olhos nus ou por meio de rumores, e todos vão notar que algo de estranho está acontecendo. As pessoas não são bobas e, sobretudo para coisas negativas, o faro é aguçado. A má comunicação por parte do líder, buscando evitar ou mesmo esconder temas críticos, é definitivamente um erro! O raciocínio ou pretexto de preservar seu time para evitar que ele fique tenso e, consequentemente, improdutivo, é descabido. Claro, há alguns limites, no entanto, tanto quanto possível, deixar o time constantemente por dentro de temas relevantes em andamento na empresa, trará um senso de pertencimento e de confiança superimportantes a todos.
Elogiar: Um elogio faz qualquer um se sentir bem, não!? Pois é, o líder deve elogiar seus liderados, ou o time completo, sempre que houver um trabalho bem executado! E se for possível em exposição para líderes maiores ou em público, melhor, porque aumentará a percepção de relevância do feito e terá maior impacto no funcionário! Esse esforço de apreciação do trabalho dos funcionários pelo líder fortalece a relação entre eles e gera um espírito de equipe muito mais positivo.
Alinhar expectativas com precisão: O nível de frustação de um funcionário pode ser alto se após um grande esforço e crença que fez um trabalho excelente, ele receber uma dura do líder porque esse esperava algo diferente. Para não haver problemas entre a entrega real e a esperada pelo líder, todo cuidado é importante no alinhamento das expectativas! O líder precisa de muita atenção em suas demandas, pois ele é maior responsável em deixar "crystal clear" o que espera de seus liderados.
O líder que colocar em prática essas 12 ações vai construir uma relação fortíssima com seus liderados. Como consequência direta, quando o líder confia em seu time, comunica-se de forma de aberta, sempre o consulta para decisões, dá feedbacks francos, é humilde e valoriza os laços entre as pessoas, sabendo que a liderança pelo exemplo contagia, o time o espelhará e as relações entre os próprios liderados também vão se tornar muito mais profundas.
O resultado final será um time de destacada união e capacidade de trabalho em equipe, além de seguro e confiante. Tal conjunto de características é pertinente a times resilientes, adaptáveis e de alta performance, tanto no cotidiano regular do trabalho como em momentos críticos e de adversidades.
Concluindo, fica aqui a provocação ao líderes leitores deste artigo:
Que tal fazer uma avaliação crítica da profundidade da sua relação com seu time? Qual o nível de confiança mútua e transparência? E de humanização? Será que há espaço para melhorar? Muito ou pouco? Quanta energia você coloca nesse tema? Será que não deveria colocar mais? Reflita!
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CORNELIS POEL é Palestrante Especialista em Liderança e Equipes Resilientes. Tem mais de 15 anos de experiência como líder de grandes corporações e um relevante histórico de resiliência e superação, por ter vencido várias doenças graves, um transplante de fígado e ainda ter se tornado triatleta.
É esse background, aliado à sua veia estudiosa de Doutor (PhD), que ele leva às suas palestras, aos seus conteúdos e suas outras atividades profissionais.
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